1º de Maio operário, socialista e internacionalista: a classe trabalhadora é uma só e sem fronteiras

Em todo o mundo o 1º de maio é comemorado como o Dia Internacional da Classe Trabalhadora – exceto EUA e Canadá. São organizados eventos de massas e marchas com as reivindicações mais sentidas. O capitalismo imperialista só nos oferece cada vez mais desigualdades, miséria, guerras e desastres ambientais que levam o planeta à barbárie. Contra o capitalismo e suas mazelas, a LIS defende a necessidade de construir alternativas políticas revolucionárias para enterrar esse sistema desumano e abrir caminho ao socialismo.

Por Pablo Vasco

Em 1º de maio de 1886 na cidade de Chicago, teve início uma grande greve pela jornada de trabalho de 8 horas. Durante vários dias, os trabalhadores entraram em confronto com a polícia. 8 dirigentes foram julgados e condenados: 3 à prisão e 5 à morte. Louis Lingg cometeu suicídio na prisão antes da execução, em 11 de novembro de 1887 Georg Engel, Adolf Fischer, Albert Parsons e August Spies foram enforcados. Antes de morrer, Spies gritou aos seus carrascos: “A voz sufocada será mais poderosa no futuro do que as palavras que posso dizer agora”.

Em 1889, o Congresso da Segunda Internacional Socialista, realizado em Paris, aprovou o 1º de maio como uma homenagem aos “Mártires de Chicago” e o dia internacional de luta pelos direitos dos trabalhadores. A partir daí, por força de greves e mobilizações, em mais e mais países foram arrancadas às 8 horas e também o 1º de maio como dia sem trabalho e pago pelos patrões. Trata-se de uma data imposta no calendário mundial pela classe trabalhadora, um dia a menos de exploração capitalista.

Como é o mundo do trabalho hoje?

De uma população mundial de cerca de 7,9 bilhões de pessoas, segundo os últimos dados da OIT, quase 3,4 bilhões trabalham. Em sua maioria, trabalham em troca de um salário, com existência ainda de trabalho escravo ou semiescravo. Se, com esses 43%, somarmos os milhões de trabalhadores desempregados, os milhões de trabalhadores já aposentados e os milhões com suas famílias, é evidente que a grande maioria das pessoas no planeta são parte da classe trabalhadora, aqueles que produzem todas as riquezas e serviços.

Claro que, entre outras divisões reais ou criadas pela burguesia, essa classe está fragmentada pela precariedade, com mais da metade na informalidade. Essa situação afeta mais as mulheres, que representam mais de 40% da força de trabalho global. Mas nenhuma dessas fragilidades anula o fato de que, longe da campanha neoliberal de uma suposta “redução” da classe trabalhadora e de sua tarefa, essa classe existe, é massiva, cresce e, decisivamente, por toda parte defende com unhas e dentes seus direitos retirados pelo capitalismo em crise sistêmica, cada vez mais explorador e predatório.

Sob o capitalismo imperialista em seu atual estágio de decadência e polarização social, não só inexiste um verdadeiro estado de bem-estar social, como há tempos se transformou num estado de mal-estar aos trabalhadores, jovens e ao povo, respondido com lutas, rebeliões e insurreições.

O momento global das lutas dos trabalhadores

Este artigo não pretende cobrir todos os conflitos no mundo, mas destacar alguns exemplos nos diferentes continentes. 2022 começou com uma revolta popular no Cazaquistão, os trabalhadores da Ucrânia já estão em resistência armada há mais de um ano contra a invasão russa, uma semi-insurreição popular sem precedentes no Sri Lanka derrubou o governo e seus ajustes, finalizando o ano com fortes greves na Europa Ocidental.

As greves e mobilizações massivas nos países imperialistas merecem um destaque especial, porque são as ferramentas mais poderosas da classe trabalhadora mundial. Na Europa, a onda grevista começou na Grã-Bretanha, mostrando a recuperação da classe trabalhadora desde a derrota de Margaret Thatcher em 1985. Houve também greves na Itália, Alemanha, Estado espanhol, Portugal e greves gerais na Bélgica, Grécia e Chipre. Na vanguarda, segue o movimento operário e de juventude da França contra a reforma da previdência de Macron, com 12 greves gerais e manifestações de uma magnitude que não se via há décadas, um processo de luta ainda em aberto e que questiona o governo burguês.

Nos Estados Unidos houve greves educacionais (especialmente no nível universitário), dos ferroviários, dos armazéns da Amazon (se estendendo a 30 países), dos bares Starbucks, dos mineiros de carvão, enfermeiras e outros sindicatos. Na América Latina, piqueteiros, operários na produção de pneus, médicos residentes, motoristas e professores da Argentina travaram fortes lutas; telefonistas no México, professores na Bolívia; servidores, metroviários e professores no Brasil; trabalhadores portuários e caminhoneiros no Chile; revolta indígena no Equador; rebelião popular no Haiti; fortes greves no Panamá e outra rebelião popular no Peru que ainda resiste à sangrenta repressão.

Na Ásia e na África, houve fortes greves no Egito (de fibras óticas, metalúrgicas, tapetes), na África do Sul (na saúde, estivadores, ferrovias), no Irã, depois da grande rebelião que desencadeou o assassinato da jovem mulher Mahsa Amini (petróleo, gás, petroquímica, refinarias, usinas de energia e siderúrgicas) e na Indonésia – fundição e outros. A China testemunhou vários protestos contra o novo bloqueio e greves massivas nas mega-indústrias de iPhone. Na Índia, 200 milhões de trabalhadores completaram uma greve geral de 48 horas por aumentos salariais e contra as privatizações. Na Austrália, houve greves na Pfizer, na Apple Store e em outras empresas. Ao mesmo tempo, fortalece a resistência dos povos da Palestina, Saara Ocidental e Curdistão.

Praticamente não há região no mundo onde a classe trabalhadora não resista e lute contra os capitalistas, seus governos e seus planos de austeridade.

Construir alternativas revolucionárias

O principal motor dessas lutas no mundo é a reivindicação por salários que se deterioram pela inflação e pelas condições de trabalho, também pelo direito à sindicalização ou contra as demissões e fechamento de empresas.

Em geral, as burocracias sindicais ainda não foram derrotadas por novas direções e/ou organizações democráticas das bases. Mas no calor das lutas surge uma vanguarda jovem e combativa que se organiza a partir da base. Com desigualdades e particularidades em cada país, uma nova geração de militantes se destacam nas lutas, buscam formas de articulação, avançam na luta contra as antigas lideranças repressoras, se radicaliza, debate e se abre ao diálogo político com a esquerda revolucionária.

Como expresso no Documento sobre a situação mundial aprovado no 2º Congresso Mundial da LIS, realizado em março passado em Barcelona: “os capitalistas não são suficientemente fortes para infligir derrotas históricas às lutas que se desenvolvem e, embora os problemas de direção de nossa classe e dos setores populares não lhes permitam resolver a crise capitalista a seu favor, a luta contra os ataques aos padrões de vida e o crescente autoritarismo continuará. É por isso que a perspectiva que vislumbramos é a de um aprofundamento do ascenso, com mais greves, mobilizações e rebeliões recorrentes.

Nosso desafio é aproveitar esta nova etapa em cada país para educar nossos quadros mais jovens, para nos estruturar social e politicamente na classe trabalhadora e nos setores mais dinâmicos do movimento de massas e para dar saltos em nossa construção, estando conscientes que estamos apenas no início de um processo que tenderá a se aprofundar e nos dará múltiplas oportunidades de avançar.

Somente se avançarmos na construção de organizações socialistas revolucionárias fortes nesta fase e conseguirmos dirigir setores de nossa classe, seremos capazes de nos transformar em um fator objetivo que enfrentará as fraquezas dos processos, ajudará o movimento operário a desempenhar o papel estratégico necessário e disputará o poder nas próximas rebeliões e revoluções. Só assim poderemos garantir que a situação pré-revolucionária não acabe regredindo, que evolua

à revolucionária para mudarmos a história” [i]. Neste 1º de Maio, nós da Liga Internacional Socialista saudamos e enviamos toda a nossa solidariedade aos trabalhadores de todo o mundo em condições muito difíceis e que lutam sem trégua por seus direitos. Na França, contra a reforma da previdência. Na Ucrânia, contra a invasão das tropas de Putin e contra o governo de Zelensky. Aos ativistas trabalhistas em Belarus que enfrentam a perseguição do ditador Lukashenko. Aos trabalhadores do Quênia e de toda a África, que lutam contra a fome e a exploração neocolonial. Aos da Nicarágua, que se organizam por seus direitos sociais e democráticos. A todos estes e estas, do Paquistão ao Líbano, dos Estados Unidos à Argentina, nosso abraço classista e revolucionário. A classe trabalhadora é uma só e não tem fronteiras!


[i]       https://lis-isl.org/2023/03/14/2-congreso-de-la-lis/