França: exploração, racismo e violência policial: a revolta é legítima!

Declaração do Comitê Político Nacional do NPA (Novo Partido Anticapitalista) francês, publicado no jornal Révolutionnaires, de 2 de julho de 2023[1].

O assassinato do jovem Nahel pelas mãos de um policial em Nanterre gerou uma indignação muito legítima. Nos subúrbios de Paris e em outras cidades e regiões, como Marselha e Lyon, continuam as noites de confrontos entre jovens de bairros populares e a polícia. Delegacias e prédios públicos são alvos de ataques aos símbolos das instituições que oprimem e discriminam setores populares. Mesmo com maiores danos, são insignificantes se comparado ao desmantelamento dos serviços públicos, à destruição da legislação trabalhista e aos crimes racistas como o último contra Nahel e, mais recente e menos divulgado, o assassinato do jovem Alhoussein, também morto pela polícia em Angoulême quando ia para o trabalho na madrugada.

Por outro lado, os toques de recolher e a proibição de manifestações estão aumentando, enquanto a direita e a extrema direita exigem estado de emergência e o governo considera essa política ao nível nacional.

O estado de emergência social já é uma realidade nos bairros populares. O que quer que pensemos da destruição causada, tudo isso empalidece frente ao desmantelamento dos serviços públicos, a destruição das leis trabalhistas e um sistema que está destruindo o futuro dos jovens trabalhadores.

Essa revolta é de parte da nossa classe

O que se expressa é o cansaço da repressão policial, dos controles, do assédio policial, dos “erros” cotidianos e, de forma mais geral, da miséria e de ser deixado de lado pelo sistema capitalista. Todos esses jovens sabem que podem ser o próximo Nahel, cujo assassinato é apenas, infelizmente, parte de uma longa lista de crimes policiais que muitas vezes ficam impunes. Nahel passou no sinal vermelho e tentou fugir da polícia? Razão suficiente para alguns justificarem sua execução sumária… desde que a vítima fosse de um bairro pobre! Porque não é o Carlos Ghosn[2] nem os sonegadores que podem ser mortos pela polícia, e muito menos os patrões que nos roubam todos os dias, explorando, congelando nossos salários e especulando com a inflação.

A polícia mata para manter a exploração e proteger a classe dominante

Desta vez, as imagens filmadas impossibilitam que tribunais, lideranças políticas e a mídia sigam a falsa versão da polícia. O assassino de Nahel foi acusado e está em prisão preventiva. Mas todos esses charlatães das classes dominantes encontram desculpas para o assassino usando a “personalidade” da vítima.

Esta é uma guerra contra os pobres, que devem ser legitimamente mortos. O grupo de extrema direita France Police, cujo líder Bruno Attal era candidato do partido de Éric Zemmour nas eleições gerais, escreveu no Twitter: “Parabéns aos colegas que abriram fogo contra um criminoso de 17 anos”. O tom é o mesmo para os principais sindicatos policiais, Unsa Police e Alliance, que afirmam em comunicado que a polícia está “em guerra” contra as “hordas selvagens” e que, uma vez restabelecida a ordem, estarão “na resistência” contra os “canalhas”. Com ameaças mal disfarçadas, pedem “proteção legal à polícia”, ou seja, licença para matar. Para não falar de uma campanha escandalosa de arrecadação de fundos na Internet (250 mil euros em 24 horas [3]) de apoio à polícia.

A polícia, majoritariamente de extrema direita e racista, está aí para controlar os setores populares, impedir e reprimir sua revolta, desejando impunidade. E o governo lhes dá rédeas soltas, com a aprovação do Rassemblement National. O número de vítimas policiais aumentou desde a Lei de 2017 — com voto favorável da esquerda de Hollande! — que flexibilizou as condições do uso de armas de fogo em caso de “recusa ao cumprimento da lei”.

Contra a violência policial, é preciso acabar com o sistema capitalista

O aumento da violência policial é a contrapartida autoritária do governo contra os trabalhadores e a juventude. É a mesma polícia que aplica as políticas anti-imigração, responsável pelas centenas de mortes de migrantes nas fronteiras, que reprimiu os coletes amarelos e os manifestantes que defendiam suas aposentadorias e pensões. Contra qualquer “acordo”, convocamos a participação nas manifestações, em todas as iniciativas para os próximos dias, contra os crimes policiais e contra a política antissocial do governo. Exigimos o fim imediato de todos os toques de recolher, a libertação de todos os condenados e a abolição da Lei de 2017 que flexibiliza o uso da violência em caso de “recusa ao cumprimento da lei”.

Todos os que se opõem às políticas do governo e dos empresários sofrem pela repressão. Temos o mesmo interesse em trilhar o caminho da luta, de mobilizarmos juntos. Estamos ao lado dos que se rebelam. Precisamos mobilizar agora com a mesma determinação dessa juventude, por objetivos comuns para nossa classe: contra a repressão, pelos nossos salários, nossas aposentadorias, pensões e contra o desemprego! Contra a insegurança no trabalho, para botar pra fora Macron, Darmanin e os patrões!

Quanto mais a pobreza e os baixos salários estão presentes, piores são as condições de trabalho, mais difícil é sobreviver e mais a polícia se arma. A polícia não está aí para nos proteger, mas para manter o poder dos ricos e dos patrões. Não queremos uma “melhor” polícia, um instrumento totalmente a serviço da classe dominante: queremos derrubar o sistema capitalista, que não faz mais do que esmagar nossas vidas.

  • Justiça para Nahel e as vítimas assassinadas pela polícia;
  • Fim dos toques de recolher e da preparação do estado de emergência, não às proibições de manifestações e restrições às liberdades;
  • Libertação e anistia de todos os presos e condenados nas manifestações;
  • Basta de miséria: uso dos lucros gigantescos das grandes empresas para os trabalhadores e moradores dos bairros;
  • Zero euro para o exército, a polícia e a gendarmeria.
  • Justicia para Nahel y todas las demás víctimas de asesinatos policiales;
  • No a los toques de queda y al estado de emergencia que se está preparando, no a las prohibiciones de manifestaciones y a las restricciones de las libertades;
  • Liberación y amnistía para todos los detenidos y condenados durante los enfrentamientos;
  • Basta ya de tanta miseria: saquemos de los gigantescos beneficios de las grandes empresas para que los trabajadores y los habitantes de los barrios decidan cómo reconstruirlos;
  • Cero euros para el ejército, la policía y la gendarmería.

[1] https://nouveaupartianticapitaliste.fr/declaration-du-comite-politique-national-du-npa-du-2-juillet-2023/

[2] Empresário do grupo Nissan-Peugeot, processado por fraude fiscal, lavagem de dinheiro e corrupção. Foragido da Justiça.

[3] Desde a publicação deste comunicado, o valor da arrecadação já ultrapassou 1 milhão de euros (4 de julho).