Crônicas da Palestina 8: uma crise humanitária, uma cúpula inútil e as mobilizações pelo mundo

O dia iniciou com a chegada dos 20 caminhões da cínica ajuda humanitária que Israel permitiu que entrassem em Gaza. As forças israelenses reafirmaram suas intenções assassinas de invadir Gaza e os líderes de vários países se reuniram em Cairo para tentar lavar seus rostos de sangue, enquanto milhares e milhares se mobilizavam em todo o mundo em apoio à Palestina.

Sábado, 21 de outubro

O exército israelense bombardeou a cidade de Rafah no momento da entrada de ajuda humanitária. A passagem de Rafah foi fechada após apenas 20 caminhões com ajuda humanitária entrarem na Faixa de Gaza. A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino declarou: “A chegada de 20 caminhões pela passagem de Rafah não é suficiente para as necessidades da Faixa e não mudará a catástrofe humanitária em Gaza”.

As agências da ONU emitiram uma declaração detalhando algumas das necessidades humanitárias em Gaza após um “primeiro, mas limitado, carregamento” foi autorizado a passar pela passagem de Rafah. A declaração do PNUD, UNFPA, UNICEF, WFP e OMS disse que o povo de Gaza “está tendo negado seu direito à proteção, alimentação, água e cuidados médicos”. Também alertou que “as pessoas vulneráveis estão em maior risco e as crianças estão morrendo em um ritmo alarmante”.

Eis alguns dos detalhes da situação em Gaza, de acordo com a declaração da ONU: espera-se que as instalações de saúde fiquem sem as quantidades limitadas de combustível que adquiriram localmente “no próximo dia ou depois”; a capacidade de produção de água em Gaza está atualmente em “5% dos níveis normais”; os estoques de alimentos nas lojas estão “quase esgotados”, enquanto “os suprimentos humanitários anteriormente estocados já se esgotaram”. A declaração também alertou que as taxas de mortalidade possam “disparar” em breve pelos surtos de doenças e à “falta de capacidade de saúde”.

Em meio à crise humanitária, Israel bombardeou dois restaurantes populares no mercado de Nuseirat, matando dezenas de pessoas.

A mesquita Al-Ansar em Jenin, na Cisjordânia, também foi bombardeada

Uma das mais talentosas poetas e romancistas feministas de Gaza, Heba Abu Nada, autora do romance Oxygen is not for the Dead [O oxigênio não é para os mortos], foi morta em um bombardeio.

Seu último poema/escrito ontem, antes de ser morta pelo genocídio de Israel contra a Palestina, foi: “A noite na cidade é escura, exceto pelo brilho dos mísseis; silenciosa, exceto pelo som dos bombardeios; aterrorizante, exceto pela promessa reconfortante da oração; negra, exceto pela luz dos mártires. Boa noite”.

Heba Abu Nada

Pelo menos 4.469 palestinos, incluindo pelo menos 1.756 crianças, foram mortos em ataques israelenses em Gaza desde 7 de outubro.

O Hamas informou ao Qatar que planejava libertar dois prisioneiros israelenses por “razões humanitárias”, mas as autoridades israelenses recusaram a receber.

Israel deve “aprofundar” os ataques contra Gaza antes de sua invasão terrestre, em preparação para “o próximo estágio” de sua guerra contra o Hamas, segundo um oficial militar.

O porta-voz do exército de ocupação disse que nenhum combustível entrará em Gaza. Reconheceu que há 307 mortos nas fileiras do exército israelense e 210 prisioneiros em Gaza e que o exército israelense intensificará sua agressão contra a Faixa de Gaza nas próximas horas. Também se referiu ao Líbano, ameaçando que qualquer um que tentar entrar no território israelense a partir de lá será morto e qualquer um que atirar será ferido.

O jornal israelense Yedioth Ahronoth informou: “Avaliações de inteligência confirmam que o Hezbollah entrará em guerra se Gaza for invadida”.

O Conselho de Segurança Nacional de Israel declarou: “Pedimos aos israelenses que deixem a Jordânia e o Egito imediatamente e evitem viajar para o Marrocos”.

O ministro da inteligência do Irã disse: “Uma vingança cruel, destrutiva e mortal aguarda o regime sionista”.


Cúpula do Cairo

Líderes e altos funcionários de mais de uma dúzia de países se reuniram em Cairo, no Egito, em uma conferência para debater maneiras de “reduzir a escalada” do conflito em Gaza em meio a temores crescentes de um conflito mais amplo no Oriente Médio.

Representantes de países como Jordânia, França, Alemanha, Rússia, China, Reino Unido, EUA, Catar e África do Sul fizeram declarações vazias contra a crise humanitária e a favor do respeito à vida dos civis. O objetivo da cúpula era apenas lavar os rostos com sangue dos governos europeus, cujo apoio acrítico ao genocídio sionista prejudica sua imagem democrática, da China e da Rússia, que tentam se apresentar como uma alternativa, mas não oferecem nada aos palestinos, e dos governos árabes pressionados pela rebelião pró-palestina de seus povos, mas que preferem continuar o processo de “normalização” das relações com Israel. Tudo foi aprovado sem muito alarde.

Enquanto o Estado de Israel avança com seus planos de invasão de Gaza e a limpeza étnica contra o povo palestino, os governos europeus reprimem e sancionam as manifestações pró-palestina onde milhares de manifestantes em todo o mundo, incluindo cerca de 100 mil no Reino Unido e dezenas de milhares em Barcelona, San Sebastian e Nova York, saíram às ruas para expressar solidariedade aos palestinos e repudiar o genocídio sionista.


100 mil pessoas marcharam em Londres em solidariedade à Palestina.