A poucos dias das próximas eleições em nosso país, entre Daniel Noboa, o atual presidente, e Luisa González, a candidata do Correísmo, reproduzimos abaixo o artigo do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores, que publicaram recentemente em sua publicação digital, Tarefa Urgente. Fazemos isso com o objetivo de aprofundar o debate necessário entre a esquerda equatoriana para contribuir para a construção de uma alternativa verdadeiramente anticapitalista, socialista e revolucionária.
Por Movimento Revolucionário dos Trabalhadores do Equador
Às vésperas das eleições de 13 de abril de 2025, os males persistentes que nos afligem mostram a cara com toda a sua violência: desastres naturais, massacres, a contratação de mercenários internacionais, um derramamento de petróleo e uma tentativa frustrada de vender o campo petrolífero de Sacha. O governo Noboa não apenas se mostrou incapaz de resolver os problemas, mas agora é parte das causas raízes deles.
Os desastres naturais que são, na verdade, uma consequência das mudanças climáticas: primeiro, um período de seca extrema e, depois, um inverno brutal que causou inundações, desabamentos de pontes, fechamento de estradas, destruição de plantações e a morte de pelo menos 25 pessoas.

Outro exemplo da indiferença do governo e da administração do setor petrolífero: sem planos efetivos de manutenção, sem uma organização adequada para lidar com emergências, sem alternativas de solução.
Diante de ambas as emergências, percebemos dolorosamente que não tínhamos medidas preventivas e que ambos os eventos excederam a capacidade do governo Noboa, que estava preocupado apenas com a reeleição a qualquer custo.
O derramamento de petróleo ocorrido em 13 de março em El Vergel, cantão de Quinindé, liberou mais de 25.000 galões de petróleo, afetando rios, estuários e plantações. Três importantes rios estão poluídos: Viche, Blanc e Esmeraldas. As pessoas afetadas são as únicas que, com poucos recursos, tentam salvar o que podem.
Em meio a essa situação, está sendo feita uma tentativa de vender o campo petrolífero de Sacha. Noboa, o presidente e candidato que continua sua campanha eleitoral sem que a CNE diga nada, queria entregar o campo petrolífero de Sacha a dois consórcios, um chinês e um canadense. Ele fez isso sem licitação e, como sempre, citando medidas de emergência; isto é, passando por cima de todas as leis e regulamentos.
Essa situação se agrava pelo fato de que as negociações dariam aos consórcios mais de 80% da produção atual e futura deste campo, que é um dos mais importantes do país e produz petróleo da mais alta qualidade. É claro que os interesses internacionais foram colocados acima dos nacionais, e que a aliança entre essa burguesia oligárquica e o grande capital minerador transnacional está na ordem do dia.
Vale destacar que o campo de Sacha é o que mais aumentou sua produção, passando de 64 mil para 77 mil barris por dia, cuja operação estava até agora nas mãos da Petroecuador, que poderia continuar a administrá-lo tanto técnica quanto economicamente. Este petróleo abastece as duas principais refinarias do Equador, Esmeraldas e La Libertad.
Essa suposta entrega de ativos nacionais à voracidade das empresas extrativas está sendo feita às escondidas até mesmo de órgãos estatais e, claro, sem levar em conta as opiniões de especialistas e, pior ainda, as vozes dos povos amazônicos e movimentos sociais que têm protestado energicamente.
Foi a mobilização ativa de movimentos sociais, trabalhadores, indígenas e setores populares que conseguiu impedir temporariamente a venda do campo Sacha. Este é o melhor exemplo de que somente uma mobilização ativa, radical e unida pode deter as políticas antipopulares deste governo ou de qualquer outro.
A violência delinquente combatida exclusivamente por meios militares, sem qualquer outra estratégia, rapidamente perde força. A delinquência organizada vai além da estratégia desconhecida de um suposto Plano Fênix. Os massacres se sucedem. Como dizem os moradores dos bairros afetados em Guayaquil: «é um campo de guerra», aberto, acrescentaríamos. Um massacre de jovens, mulheres e crianças.
A resposta típica das grandes empresas de banana da América Latina é apresentada como a melhor opção para Noboa: vamos contratar mercenários. Noboa negocia com o mercenário internacional Erik Prince, fundador da empresa militar privada Blackwater, que participou de várias guerras, incluindo a do Iraque. Nas estratégias de guerra usadas pelos Estados Unidos e pela Rússia, exércitos privados foram usados para executar ações fora da lei e sem que pudessem ser punidos.
Por outro lado, sabemos que as empresas de banana têm seu próprio sistema de segurança, composto por guardas armados e mercenários, cujo objetivo principal não é controlar o crime, mas impedir qualquer protesto dos trabalhadores. Assim, na Costa Rica, que se orgulha de não ter uma grande força armada estatal, ela está cheia de exércitos privados nas mãos de grandes empresas.
Noboa agora transformou essa política de recorrer a grupos armados privados em política de estado ao contratar o grupo mercenário de Prince. Além disso, como já vimos tantas vezes, esses tipos de exércitos privados, colocados fora da institucionalidade, rapidamente se tornam instrumentos para reprimir o protesto popular; ainda mais considerando a mentalidade conspiratória deste governo.
E todos esses eventos acontecem às vésperas do segundo turno das eleições, que colocará o ADN contra a Revolução Cidadã. A terceira força eleitoral, Pachakutik, viu o ato de resistência representado pelos seus 5,29% de votos diluídos politicamente. A dispersão do voto indígena, expressa numa grande variedade de posições, impede uma política unificada que enfrente os dois setores burgueses em disputa. Uma questão com repercussões ainda maiores para o campo popular, porque o voto do Pachakutik também inclui uma parcela significativa dos setores populares que escaparam da polarização.
Desde as organizações dos trabalhadores, como o CEDOCUT, e do movimento indígena, como a CONAIE, as demandas populares foram levadas ao cenário político, abordando questões-chave: a insegurança, a economia, o emprego, os direitos dos trabalhadores, o repúdio à repressão aos sindicalistas e a exigência de aprovação do Código Trabalhista apresentada pela FUT.
Por parte das candidaturas não há resposta. Noboa, que deu as costas à lei, fez campanha, inaugurou projetos, inundou as redes sociais com propaganda e usou a mídia para espalhar suas ideias, tudo isso sem falar nada sobre a CNE. A Revolução Cidadã está presa em seus próprios conflitos, desviando-se para a direita para atrair uma parcela do eleitorado desse campo, enredando-se entre aqueles que querem continuar com a dolarização e aqueles que não querem.
Está claro que para o campo popular não há uma boa alternativa. O caminho do mal menor é uma armadilha, porque nos desarma política e ideologicamente, e não nos prepara adequadamente para as lutas que virão. Para arrastar o progressismo populista para a esquerda e mobilizar nossos direitos, precisamos de uma força social e organizada, poderosa o suficiente para forçá-los a agir em defesa do povo.
Votar nulo é a única política correta para a defesa da independência de classe, tanto política quanto organizacionalmente.