Enquanto a Palestina sangra sob o cerco israelense, as monarquias árabes recebem com honras Trump e assinam acordos multimilionários. As alianças entre magnatas autoritários ignoram deliberadamente o sofrimento do povo palestino. Nem Trump, nem reis, nem ocupação! O Oriente Médio precisa de uma Revolução Socialista.

Por Ruben Tzanoff

Hamas libertou outro refém

Após conversas entre representantes do Hamas e o governo dos EUA, em 12 de maio, o Hamas libertou Edan Alexander, de 21 anos, que foi entregue à Cruz Vermelha, em uma operação coordenada entre o Hamas, EUA, Egito e Catar. A libertação do soldado israelense-americano foi interpretada como um gesto da liderança fundamentalista para a nova administração e como parte dos esforços para “conseguir o cessar-fogo, abrir as fronteiras e introduzir ajuda e assistência humanitária” na Faixa de Gaza, que é bloqueada por Israel.

Momento em que o Hamas entrega Edan Alexander à Cruz Vermelha.

Política e negócios privados

No dia 13 de maio, Donald Trump, acompanhado por empresários multimilionários, iniciou uma viagem pela Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes Unidos que terminará em 16 de maio. Depois de participar do funeral do papa, é sua primeira viagem oficial ao exterior desde que assumiu o segundo mandato em janeiro de 2025.

De partida, o presidente yankee tem sido criticado pelas relações estabelecidas entre a agenda oficial e os negócios da família. À exemplo das menções feitas através de suas redes sociais, anunciou que receberá como “presente” do governo de Qatar, um avião Boeing 747-8, que se tornará o novo Air Force One, que ele manterá para uso pessoal após o término de seu mandato e que na Arábia Saudita sua família tem seis acordos pendentes com uma empresa imobiliária em que a coroa saudita é acionista majoritário. Deve-se lembrar que após o primeiro mandato de Trump, as empresas revalorizaram em pelo menos 2,4 bilhões de dólares.

O avião de “presente” para Trump.

Negócios multimilionários

As reuniões realizadas e os acordos resultantes confirmaram as especulações sobre os alcances e objetivos da viagem.

Em Riyadh, Trump e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, assinaram um histórico acordo de parceria econômica e militar no valor de 600 bilhões de dólares. O pacto inclui: venda de armas para os sauditas por 142 bilhões de dólares, o compromisso das empresas americanas Google e Oracle de investir 80 bilhões de dólares em projetos conjuntos e da saudita DataVolt a investir 20 bilhões em centros de dados nos EUA, a realização da venda de aviões Boeing por 4.8 bilhões e a construção de uma planta industrial por 5.8 bilhões em Michigan.

Elon Musk em Riyadh.

Com Ahmed al Shara

Como complemento, em Riyadh, Trump encontrou-se com Ahmed al Shara, presidente da Síria (Organização para a Libertação do Levante (HTS). De acordo com um comunicado da Casa Branca, “pediu” ao líder sírio a assinar os Acordos de Abraão com Israel, deportar terroristas estrangeiros e palestinos, colaborar com os EUA contra o ressurgimento do Estado Islâmico e libertar alguns presos políticos. Seria uma parte do preço a pagar pelo levantamento das sanções americanas à Síria que, segundo Trump disse na terça-feira passada, já decidiu. Como indicativo dos interesses regionais em jogo, participaram da reunião o príncipe Mohamed bin Salman e, por telefone, o presidente turco Recep Tayip Erdogan, protetor do regime islâmico sírio.

Ahmed al Shara e Trump apertam as mãos em Riyadh.

Um contraste tão insultante como indignante

A monarquia reacionária recebeu Trump com uma cerimônia fastuosa e tapetes cor de lavanda(1), como início de uma turnê que passará entre palácios e luxos. Enquanto isso, a região é assolada pela destruição, horror e miséria, já que Riade está a menos de dois mil quilômetros de Gaza, onde o Estado de Israel executa um genocídio. Algo similar acontece com o Líbano, a Síria e o Iêmen também agredidos pelo sionismo, e com o Irã, cujo regime fundamentalista do imperialismo começou a conversar no sábado passado em Omã, a fim de tentar anular, ou pelo menos limitar, seu programa nuclear.

Palácios luxuosos em Riyadh.
Tendas precárias em Gaza.

Fora imperialistas e colonialistas!

Rejeitamos a presença de Trump e a interferência norte-americana que constitui o principal suporte do Estado de Israel. Fora colonialistas e imperialistas do Oriente Médio! Nós repudiamos a recepção dos líderes imperialistas como parceiros e amigos, enquanto o povo palestino é massacrado e outros povos árabes são agredidos! Pare o genocídio em Gaza e a agressão ao Líbano e outros países! A mobilização e a organização são a chave para enfrentar os opressores do Ocidente e do Oriente Médio, no caminho da única saída estratégica para alcançar uma paz duradoura, justa e direitos sociais e democráticos no Oriente Médio: a Revolução Socialista.

1.- Desde 2021, a Arábia Saudita adotou a cor lavanda para seus tapetes cerimoniais, simbolizando a identidade cultural do reino e os tons das flores que cobrem seus desertos na primavera