Por: Roberto Franco García
Em meio à enorme comoção causada pelo atentado, poucas hipóteses estão sendo consideradas sobre este ponto decisivo. Parece não haver dúvidas sobre o autor direto, que foi imediatamente capturado: um menor de idade, provavelmente recrutado por dinheiro. Ele deve ter tido cúmplices para realizar seu “trabalho”, mas quem deu a ordem?
Responder a essa pergunta é de suma importância para prever quais repercussões o atentado terá no processo político nacional ou se eventos dessa natureza poderão ocorrer novamente no futuro imediato. Ao mesmo tempo, há outra questão intimamente relacionada: quem se beneficia, ou é prejudicado, por um evento dessa gravidade?
Autoatentado, muito improvável
Embora seja válido o conceito investigativo de que, à partida, em casos como estes, nenhuma hipótese pode ser descartada, também é válido que, quando comparados com a situação específica e os fatos políticos ou sociais evidentes, alguns pareçam menos prováveis do que outros.
Os ataques físicos (atentados) a políticos — independentemente de qual setor sejam — geram uma enorme onda de simpatia e solidariedade com a vítima. É por isso que os autoatentados existem. Mas os autoatentados, sejam eles conhecidos de antemão e aceitos pela vítima ou não, supostamente garantem baixos riscos para a própria “vítima”. O objetivo é simplesmente produzir o evento “espetacular” do ataque para aproveitar a publicidade, a simpatia e a solidariedade geradas. Este não é o caso atual. Segundo laudos médicos, a vítima está entre a vida e a morte.
Ordem de um setor político “legal”: pouco provável
Apesar da enorme polarização entre as forças que apoiam o governo e as que se opõem a ele, todas as quais até agora atuaram no âmbito do regime político e alegaram respeitar a institucionalidade, não há evidências sólidas que sugiram que qualquer uma dessas forças, ou um pequeno setor delas, tenha desencadeado o processo que culminou no ataque.
Os microscópicos remanescentes do M-19 (apesar de Petro ocasionalmente agitar sua bandeira ou brandir simbolicamente a espada de Bolívar) abandonaram esses métodos nefastos há décadas. Os processos de profunda integração ao regime das extintas FARC-EP tornam tal ação improvável. O restante da chamada “esquerda” que apoia o governo nunca utilizou esses métodos; menos ainda agora que desfruta dos benefícios de ser “governante”, o que lhes garante enormes vantagens.
Clãs, dissidências, Estados Maiores ou menores e “guerrilhas”: a possibilidade é maior
A Colômbia é um país onde, mais do que em muitos outros, as forças mais variadas e poderosas se cruzam, combinando atividades legais e ilegais e “todas as formas de luta” para desenvolver negócios capitalistas lucrativos. Não se trata apenas do negócio multimilionário da cocaína. Envolve a mineração ilegal de ouro e outros metais, o controle do contrabando e muitas outras áreas.
Todos esses grupos, em todo o país, estiveram envolvidos, de uma forma ou de outra, na oferta de “paz total” do governo Petro. Esse processo está fracassando por todos os lados, e seu colapso começou a gerar confrontos cada vez maiores. Basta lembrar os julgamentos de Catatumbo, ocorridos há alguns meses. Até recentemente, durante várias semanas, o chamado Clã do Golfo realizou a “Operação Pistola”, típica das eras mais macabras da atuação de grupos do narcotráfico nas décadas anteriores. Isso buscou pressionar o governo a uma ampla variedade de concessões e negociações. Todos esses grupos, alguns mais do que outros, podem ter interesse em semear ansiedade, gerar confusão e realizar atos que demonstrem o fracasso do governo Petro.
Até o momento, e até onde se sabe, nenhum desses grupos assumiu a responsabilidade pelo atentado contra Miguel Uribe T., mas isso não descarta a possibilidade. É típico dessas organizações que nem sempre assumam a responsabilidade por seus atos.
E nasce mais uma perna para o coxo
Nos últimos dias, houve um violento confronto com um grupo criminoso com enorme influência no Vale do Cauca: os chamados Inmaculada, de Tuluá, liderados por “Pipe Tuluá”. A extradição do principal líder do grupo para os Estados Unidos está em jogo. Em protesto, a quadrilha realizou diversas ações, especialmente em Tuluá, que impuseram um toque de recolher por várias noites. O ataque não poderia ser um desafio aberto ao governo Petro por parte dessa quadrilha, deixando-o ciente de que causará “um caos” se seu principal chefe for entregue à justiça americana? Não seria esse o mesmo padrão seguido pelos traficantes de drogas (especialmente Pablo Escobar) na década de 1990?
Tal como reconhecemos, nenhuma hipótese pode ser descartada. O governo quase certamente terá mais informações sobre muitos deles, inclusive sobre este último. O curioso de tudo isso é que pouco ou nada se diz sobre quem deu a ordem?
E quem se prejudica?
Falando em termos políticos — não de quem sofreu os ferimentos e agora está entre a vida e a morte —, não há dúvida de que o governo de Gustavo Petro está sofrendo o impacto deste ataque.
Assim que a notícia foi divulgada, todos os meios de comunicação, analistas, porta-vozes de diversas forças políticas, representantes de sindicatos, instituições, organizações internacionais e governos de outros países apontaram como um dos pontos centrais de suas declarações a necessidade — direta ou indiretamente — de cessar o “confronto verbal”, as “mensagens de ódio” e a polarização; ao mesmo tempo, proclamam a defesa da “democracia”. E quem parece ser o primeiro alvo dessas alusões é, sem dúvida, Gustavo Petro, que foi forçado a cancelar o “passeio” de uma semana a Paris, que estava programada para começar com 70 autoridades.
No imaginário político nacional, quem aparece como um elemento “polarizador”, que realiza uma constante “confrontação verbal”, que “ameaça a democracia”, é o presidente. Além disso, o planejado “decretaço” que convoca um referendo sobre a reforma trabalhista (que ainda não foi promulgado e não está claro se algum dia será) foi apontado como uma verdadeira tentativa de golpe de Estado, uma usurpação de poderes que não correspondem à presidência. Até mesmo alguns dos atuais ministros de Petro parecem ter se oposto à assinatura deste “decretaço”.
O governo foi colocado na defensiva. Vários de seus apoiadores mais leais estão tentando se distanciar da linguagem do presidente, que parece provocativa, ameaçadora e excessivamente beligerante.
O que o governo havia conquistado na disputa com o Senado pela reforma trabalhista e com seu plano de referendo pode estar perdendo em um piscar de olhos devido às críticas contra Miguel Uribe T., críticas que feriram politicamente o próprio Petro.
Publicado originalmente em www.eltrabajadorsocialista.org