Por Sofía Martínez – Alternativa Socialista
Enquanto a oligarquia celebra o aniversário da pátria com desfiles e discursos vazios no centro de Lima, milhares de peruanas e peruanos voltarão às ruas neste 28 de julho para exigir uma verdadeira transformação. Farão isso com a raiva acumulada de décadas de saqueio neoliberal, corrupção institucionalizada e repressão sangrenta. A mobilização popular — ainda que silenciada pelos grandes meios de comunicação — expressa com força que o povo não esquece nem perdoa o massacre de Dina Boluarte nem o sequestro político do país nas mãos do Congresso mais desmoralizado da nossa história recente.
A situação política do Peru está marcada por uma crise orgânica do regime nascido com a Constituição fujimorista de 1993. Nem o Executivo nem o Legislativo gozam de qualquer legitimidade. Dina Boluarte, imposta após o golpe parlamentar de 7 de dezembro de 2022, encarna o continuísmo mais brutal: governa com sangue e fogo, entregando o país ao capital transnacional e fortalecendo o autoritarismo cívico-militar. O Congresso, por sua vez, é um ninho de reacionários, mercenários e mafiosos que legislam em benefício próprio, blindando-se mutuamente enquanto avançam na destruição de direitos trabalhistas, na privatização dos serviços públicos e no esbulho dos territórios indígenas.

Nesse cenário, as eleições gerais de 2026 aparecem como uma armadilha montada pelo regime para se oxigenar sem mudar nada substancial. Fala-se em “renovação democrática”, mas o que está sendo tramado nos bastidores é uma recomposição das elites para manter intacto o modelo neoliberal. Já começam a circular nomes de velhos e novos oportunistas: tecnocratas reciclados, outsiders de laboratório, empresários “antisistema”, comediantes, figuras da mídia e até militares da reserva que se apresentam como salvadores da pátria. Todos com um mesmo objetivo: conter a rebelião popular e preservar a ditadura do capital.
Paralelamente, o país sangra sob uma onda crescente de criminalidade que atinge com mais força os setores populares. Diante da total inação do governo frente ao crime organizado e às redes de extorsão que atuam com impunidade nas ruas, os sindicatos dos transportes anunciaram uma Greve Nacional para os dias 24 e 25 de julho. Essa medida, que vai além das demandas corporativas, expressa o desespero de um setor abandonado, sem garantias mínimas de segurança para exercer seu trabalho. A resposta do regime não foi proteger o povo trabalhador, mas sim reprimi-lo com militarização e declarar estado de emergência, em vez de atacar as raízes estruturais da violência: a corrupção institucional, o abandono estatal e o poder econômico do narcotráfico.

Como se não bastasse, o Congresso aprovou recentemente uma infame lei de anistia que busca exonerar de qualquer responsabilidade penal militares e policiais envolvidos em violações de direitos humanos durante o conflito armado interno. Essa lei não é apenas uma afronta à memória histórica do país, mas uma declaração aberta de impunidade. Diante disso, os familiares das vítimas vêm realizando vigílias e outras ações diante do Palácio da Justiça, exigindo verdade, justiça e reparação. Sua luta nos lembra que não haverá paz sem memória e que a reconciliação só pode acontecer com julgamento e punição dos responsáveis pelo genocídio e pela repressão estatal. Essa ofensiva reacionária busca apagar os crimes do passado para abrir caminho ao autoritarismo do presente.
Desde uma perspectiva socialista revolucionária, não podemos cair na ilusão eleitoral. Não será por meio das urnas manipuladas nem pela “democracia” dos ricos que conquistaremos nossas reivindicações. É necessária uma saída de fundo, que só pode vir da mobilização organizada da classe trabalhadora, do campesinato, da juventude e dos povos originários. A luta por uma Assembleia Constituinte livre e soberana, que enterre de vez o legado do fujimorismo, deve ser impulsionada a partir das ruas e não por meio de acordos parlamentares. Mas mesmo essa bandeira deve ser apenas um passo rumo ao objetivo estratégico: um governo dos trabalhadores e do povo, que exproprie os grandes grupos econômicos e planeje democraticamente a economia a serviço das maiorias.

Hoje, mais do que nunca, é preciso construir uma alternativa política de esquerda revolucionária, que não capitule ao reformismo e nem se subordine ao eleitoralismo impotente. Uma organização que unifique as lutas dispersas, que levante um programa socialista e que prepare uma nova onda de insurreição popular. O Peru está longe da estabilidade; vivemos uma etapa em que tudo está em disputa. A tarefa urgente é organizar a força social capaz de fazer essa disputa explodir.
Fora Boluarte, dissolução do Congresso e punição aos assassinos do povo!
Por uma Assembleia Constituinte desde abaixo, com poder operário e popular!
Por um governo das e dos trabalhadores!




