Por: Alberto Giovanelli

Após destinar cerca de US$ 288 milhões para impulsionar Trump e seus candidatos, Musk, proprietário da X e criador da SpaceX, mudou de posição em relação ao governo, após a iminente aprovação do pacote de gastos públicos e imigração impulsionado por Trump, que aumentaria ainda mais a dívida pública americana.

Como resultado do giro político brusco, o império empresarial de Musk está em apuros. Seu confronto com Trump e sua tentativa fracassada de eleger um juiz para a Suprema Corte de Wisconsin corroeram seu capital político.

Sua popularidade despencou quando o Departamento de Eficiência Governamental, que ele mesmo criou para supervisionar o corte de gastos públicos, desorganizou completamente o funcionamento do governo federal e expôs ainda mais sua imagem e seu caráter, gerando forte polarização entre os estadunidenses.

Agora, Musk tenta retomar a ofensiva. No mínimo, sua aposta na política pode complicar a vida dos legisladores que, segundo ele, não cumpriram a promessa de cortar gastos.

Todos os membros do Congresso que fizeram campanha a favor da redução dos gastos públicos votaram a favor do maior aumento da dívida da história e, por isso, deveriam ter vergonha!”, escreveu Musk esta semana no X. “E vou fazer com que eles percam as primárias no ano que vem, mesmo que seja a última coisa que eu faça neste mundo”, ameaçou.

Com essa declaração, traçou seu próximo objetivo: incentivar a campanha pela reeleição de Thomas Massie, representante republicano por Kentucky, que se opõe ao pacote legislativo de Trump. Encorajado a apoiar Massie pelo ex-congressista republicano Justin Amash, um rival de Trump que declarou oportunamente que o sistema bipartidário era uma “ameaça existencial”, Musk anunciou a criação de um novo partido ainda mais à direita que os republicanos.

Simultaneamente, Trump reforçou suas críticas contra Elon Musk, em meio ao debate sobre seu plano orçamentário. O presidente alertou que, sem a ajuda do Estado, o empresário “provavelmente teria que fechar e voltar para a África do Sul” e ameaçou cortar os subsídios recebidos pelas empresas do magnata.

Trump acrescentou que Musk “pode receber, de longe, mais subsídios do que qualquer outra pessoa na história” e afirmou que, caso eles fossem retirados, acabariam os “lançamentos de foguetes, os satélites e a produção de carros elétricos, e nosso país economizaria uma fortuna”.

Essas tensões também impactaram os mercados. As ações da Tesla despencaram 6% nesta terça-feira, depois que Trump insinuou publicamente a possibilidade de expulsar Musk do país.

Acreditar que esse conflito é apenas “pessoal” é um erro de grande magnitude. Elon Musk representa principalmente os setores de transporte, energia e exploração espacial, com foco em inovação e disrupção tecnológica. Seus investimentos e projetos mais conhecidos, como Tesla, SpaceX e Neuralink, pertencem a esses setores. Além disso, Musk também se aventurou na inteligência artificial e nas redes sociais, com empresas como a xAI e a X (anteriormente Twitter), mas cada um desses projetos contou com fortes subsídios estatais que Trump ameaça cortar. Contra essa ameaça se levantam Musk e o setor de grandes magnatas do mundo que ele lidera. Daí a queda das ações, a suspensão de projetos em andamento e o medo de novas crises que se aproximam. A atual fase crítica do capitalismo mundial não parece poupar nem mesmo os mais ricos do mundo das dificuldades, contradições e confrontos.

Esse confronto entre Trump e Musk evidencia a fratura dentro do oficialismo republicano e reacendeu o debate sobre o papel do capital privado na política pública. A advertência do presidente sobre os subsídios, a possível intervenção da DOGE e as declarações do empresário contra o aumento da dívida transformaram o conflito em um dos temas mais explosivos da atual cena política americana.

Devemos também compreender que essa crise entre setores do poder expressa os problemas gerados pela resistência que se manifesta nas ruas contra as primeiras medidas de Trump, poucos meses após sua posse. Essas tensões poderão multiplicar-se à medida que a mobilização contra o governo cresce e novas crises e divisões venham a acontecer. Em poucos meses, Musk transformou-se de “farol” do mundo em um magnata obscuro com um futuro incerto.