Líbano: não às intervenções externas

Por Ali Hammoud

O vácuo presidencial e de governo no Líbano continua após a derrota das forças locais nas eleições presidenciais, favorecendo as forças regionais e internacionais que sempre tiveram grande impacto na política libanesa.

Desde a independência do país em 1943, essas forças têm desempenhado papéis decisivos nas eleições presidenciais, que representa a convergência de interesses e dinâmicas dessas potências geopolíticas regionais. Após sua independência, a Grã-Bretanha e a França compartilharam influência no Líbano. Mas logo perderam a exclusividade com a entrada em cena de lideranças regionais e internacionais.

Hoje, a França retorna ao seu sinistro papel de salvadora do regime por meio de suas repetidas iniciativas, assim como na explosão de 4 de agosto de 2020, reunindo os lados do conflito político na mesa do presidente Macron e esfriando a raiva dos libaneses. Ocorrerá um encontro de cinco países – Estados Unidos, Arábia Saudita, Qatar, Egito e França – para apresentar uma solução eleitoral, uma intervenção que denunciamos.

Entre os partidos políticos do regime libanês, próximos ao regime sírio, está o ex-ministro Suleiman Franjieh, candidato da dupla sectária xiita Hezbollah e Movimento Amal. Trabalham para negociar com os países da região e obter a aprovação saudita em troca de garantias para proteger os interesses políticos dos estados do Golfo no Líbano, principalmente após a reconciliação saudita-iraniana com o fim da cisão entre os dois países.

• Este impasse político entre os partidos do regime e os seus apoiadores é acompanhado por uma escalada e agravamento do colapso econômico. A cotação do dólar atinge o patamar de 100 mil libras, quando há três anos era de 1.500 libras. Há também um colapso nos salários e no poder de compra.

• Os efeitos desta crise têm impacto nas condições de vida da classe trabalhadora e dos desempregados. As necessidades vitais não são atendidas, como segurança alimentar e sanitária, educação e serviços básicos como eletricidade, água e transporte. Tudo isso aumenta a pobreza das famílias libanesas.

• O custo da alimentação no orçamento familiar aumentou 7.883%: o que se comprava por 1 mil libras, agora custa 78 mil. O custo do transporte, que retira uma parte significativa do orçamento devido à falta de transporte público, cresceu em 5.615%: o que custava 2 mil libras agora custa 112 mil. O custo de roupas e calçados aumentou 7.350%, a saúde em 1.761%, serviços de habitação em 1.977% e educação em 451%.

• Todos estes enormes aumentos de preços contrastam com um pequeno aumento salarial, que não ultrapassa os 385%. O valor atual dos salários diminuiu em uma porcentagem maior, já que a economia libanesa é altamente dolarizada. O valor do salário em dólares diminuiu de 450 para 28 por mês.

A luta política entre os partidos do regime está ligada a posições autoritárias e pela hegemonia e o saque do dinheiro público. A divisão política que existe hoje não se refere a diferentes projetos de reforma ou se o custo da crise será paga por este ou aquele setor. Os projetos econômicos de ambas as partes na disputa política não diferem, são de um mesmo autor: dos Bancos.

Hoje, a sociedade libanesa está se fragmentando e o que resta do estado está perdendo sua capacidade de manter sua autoridade central. Começa a se estabelecer grupos de “autodefesa” nas regiões. Isso não está mais limitado ao Hezbollah e suas áreas de controle, começou a se espalhar para novas áreas como Achrafieh, onde operam grupos dos Soldados de Deus, e Zouk Mikael, onde operam grupos da Patrulha da Noite, ambos cristãos. Semanalmente ouvimos notícias sobre novos grupos regionais e limites criados por municípios ou partidos religiosos sectários.

Soma a esta situação as ondas de incitação contra os refugiados sírios e os apelos à deportação forçada, o que significa a entrega de dezenas de milhares de opositores ao regime sírio e a sua condenação à morte. O Líbano vive atualmente uma fase muito difícil, acumula problemas políticos, de segurança, econômicos e sociais. Sob o sistema capitalista existente, nenhuma solução está no horizonte. A solução para a crise e o colapso só será superada com um novo sistema: o socialismo.