Entre os dias 10 a 14 de março, foi realizado em Barcelona o II Congresso da Liga Internacional Socialista. Durante cinco intensos dias de debates, delegados(as) e convidados(as) de 25 países dos cinco continentes analisaram a situação política e a luta de classes no mundo, as oportunidades e os desafios que os revolucionários enfrentam. O Congresso encerrou com a votação de diversos documentos, resoluções e campanhas que sintetizam a elaboração das seções, enriquecidas pela discussão no evento e um novo Comitê Executivo Internacional.
Ao prédio histórico de Alberg Xanascat, com sua bela vista panorâmica da cidade de Barcelona, delegações da América chegavam, desde o Cone Sul do continente até os Estados Unidos, passando pela América Central, Europa Ocidental e Oriental, África subsaariana e Magrebe, da Ásia, Oriente Médio e Austrália. Muitos outros se conectaram virtualmente, onde dezenas de dirigentes de todas as seções e entidades solidárias também acompanharam o evento.
Uma mesa de condução do congresso foi formada para iniciar o evento com Alejandro Bodart, do MST argentino, e Imran Kamyana, de The Struggle (A Luta) do Paquistão (ambos da coordenação da LIS), Chaia Ahmed Baba da juventude do Saara Ocidental e Ezra Otieno da Liga Socialista Revolucionária (RSL) do Quênia.
A representatividade das delegações que participaram, o nível de debate e as tarefas e resoluções votadas refletem o crescimento e o progresso da LIS desde o I Congresso realizado no final de 2021. Nossa organização conseguiu passar no teste da guerra, implementando uma política com princípios e uma série de iniciativas e campanhas de grande impacto, como a realizada pela liberdade dos presos na Nicarágua, o que permitiu nos fortalecer em nossos países e somar novas organizações. Saímos do nosso II Congresso com mais energia para enfrentar os desafios que temos pela frente e dar um novo salto no desenvolvimento dos nossos partidos e da nossa Internacional.
No primeiro dia do Congresso foi debatido a situação mundial. O projeto de documento mundial foi enriquecido com o relatório, o debate e diversas contribuições que mostraram um alto nível de concordância sobre a perspectiva de um mundo vivenciado pela crise sistêmica do capitalismo, pela crescente polarização social e política, pelo acirramento das disputas interimperialistas com a guerra ucraniana e as importantes oportunidades para a construção de partidos revolucionários em todo o mundo.
O segundo dia iniciou com o ponto sobre a crise econômica global. O relato e a discussão aprofundaram a análise e as perspectivas da crise sistêmica do capitalismo.
Em seguida, o ponto da guerra ucraniana e a situação na Europa Oriental também foram discutidos. O informe de Oleg Vernyk, membro da coordenação da LIS e da Liga Socialista Ucraniana (LSU), juntamente com o debate, aprofundou a análise da guerra e da resistência do povo ucraniano contra a invasão de Putin e os debates com setores da esquerda campista e caudatária do imperialismo russo. Foi reafirmada a política de independência de classe que a LIS desenvolve no apoio à resistência ucraniana, pela retirada das tropas russas e pela dissolução da OTAN.
O debate foi desenvolvido pelas intervenções dos camaradas da LSU, que lutam na linha da frente, e dos camaradas bielorrussos da LIS e os dirigentes sindicais Roman e Maxim, presentes na reunião, que contribuíram para a difícil situação sob a ditadura de Lukashenko e as perspectivas da classe operária no Leste que poderá ser aberta com a possível vitória das massas ucranianas. Foi aprovada uma resolução desenvolvida pela Coordenação da LIS e ampliada pelo debate sobre a política e intervenção na guerra.
No terceiro dia, a Europa e a América foram discutidas. O ponto da Europa contou com a intervenção destacada dos camaradas da corrente L’Étincelle (A Faísca), que conduzem a formação de um novo NPA na França, e dos camaradas da LIS no Reino Unido. Um ponto central do debate foi sobre as greves que abalaram os dois países e revigoraram a conjuntura mundial com a entrada em cena da poderosa classe trabalhadora europeia.
O segundo ponto começou com uma reportagem sobre a América Latina e a participação dos camaradas do Coletivo Tempest, dos Estados Unidos. A rebelião em curso no Peru foi um tema central da discussão, além dos importantes avanços na construção da LIS, como a unificação de nossas organizações no Brasil e a fundação do novo partido, Revolução Socialista, a próxima unificação de nossas organizações na Colômbia e os avanços na América Central desde a viagem da Comissão Internacional pela Vida e Liberdade dos Presos Políticos na Nicarágua, com a presença de camaradas de vários países da região.
O quarto dia teve uma agenda intensa, com temas sobre Oriente Médio, África e Ásia. Camaradas da LIS na Turquia e Líbano abriram o ponto com reportagens focadas na rebelião popular e operária no Irã, a luta palestina contra o Estado sionista de Israel e seu novo governo fascista e a situação aberta na Turquia após o devastador terremoto que abalou o sul do país e da Síria.
Camaradas do Quênia, Tanzânia e Saara Ocidental abriram o ponto sobre a África. Todos jovens dirigentes, representantes da ampla vanguarda radicalizada que cresceu no continente desde as rebeliões da primavera árabe, o que abre uma grande oportunidade para a LIS expandir a organização no continente africano. Foram discutidos documentos sobre o socialismo africano e o pan-africanismo revolucionário apresentados pelos camaradas do RSL; a Campanha da Revolução Njaa (contra a fome) no Quênia pelo controle dos preços e distribuição de alimentos; as expressões de opressão de gênero que devemos combater no continente; a luta do povo saharaui contra a ocupação marroquina e a campanha de solidariedade da LIS. Acima de tudo, discutiram como é possível aproveitar as oportunidades para fortalecer e expandir a LIS, com a convocatória para um primeiro Congresso Pan-Africano da LIS com organizações de uma dezena de países com os quais os nossos camaradas têm contatos.
O ponto da Ásia foi aberto pelo The Struggle (A Luta) do Paquistão. A discussão centrou-se na situação política e nas oportunidades no subcontinente indiano e na complexa situação no Afeganistão desde a retirada do imperialismo estadunidense e a retomada do poder pelo Talibã.
No último dia do Congresso, foram discutidos o ponto ambiental, orientação e a Coordenação da LIS. O ponto ambiental aprovou uma campanha para a COP30 que possivelmente ocorrerá no Brasil em 2025 e a organização de um II Fórum Mundial Socioambiental da LIS.
Em seguida, foram votados os documentos sobre a situação mundial, sobre a crise econômica, sobre a Europa e América Latina, e resoluções sobre a Ucrânia, África, sobre Gênero, Meio Ambiente, sobre a Palestina, Nicarágua e Bielorrússia.
Por último, discutiu-se o balanço da LIS neste ano marcado pelas profundas alterações provocadas pela guerra na Ucrânia e sua orientação para o próximo período. Apesar dos complexos debates que a guerra suscitou na esquerda revolucionária mundial, a LIS se expandiu neste período com incorporações e unificações em diversas regiões e saiu fortalecida do Congresso. Reafirmou o projeto de unir correntes de diferentes tradições com base em princípios revolucionários e em um método saudável de debate e campanhas de ação conjunta.
O Congresso encerrou com a votação de uma nova coordenação, com incorporações, a criação de uma Comissão Internacional de gênero e a resolução de diversas iniciativas. Entre estas, a edição de um novo número da Revolução Permanente, a revista da LIS, com regularidade trimestral, a ser impressa e distribuída em todos os países e idiomas onde estamos; o primeiro Congresso Pan-Africano da LIS; um seminário internacional sobre economia para aprofundar a análise da crise mundial, com o papel da China e o desenvolvimento das disputas interimperialistas; o II Fórum Mundial Socioambiental da LIS; um fórum internacional sobre Cuba, Venezuela e Nicarágua para desenvolver os debates em torno desses processos; campanhas internacionais de solidariedade com o povo da Ucrânia, Nicarágua, pela liberdade dos presos políticos na Bielorrússia, pela Revolução de Njaa no Quênia, entre outras.
As e os delegados e convidados que participaram do II Congresso da LIS partiram de Xanascat com energia e entusiasmo para retornar aos seus países e intervir na dinâmica luta de classes, construindo os partidos revolucionários e a Internacional que necessitamos para avançar na resolução de uma vez por todas da crise de direção revolucionária da classe trabalhadora mundial. Esse é o projeto da LIS, com um salto importante nesse II Congresso.
Contribuição para o debate sobre a situação mundial: a caminho de mais crises, guerras e revoluções
Resolução sobre a guerra na Ucrânia
La economía mundial en su laberinto. Hoja de ruta
Resolução sobre o movimento socioambiental. Política e orientação
A expressão socioambiental da crise civilizatória: notas para o debate
Resolução sobre as lutas de gênero e a política revolucionária
A situação na América Latina. Análise, política e tarefas da LIS
Europa, en clave de guerra, crisis y luchas sociales
Resolução sobre ativistas operários bielorrussos presos.